A apresentação do trabalho acadêmico é uma tarefa um pouco diferente de todo o processo de pesquisa. Em vez da solidão, da leitura e do texto, chega a hora de encontrar o público e ser avaliado. É o momento de sair da torre de marfim e encontrar a claridade do mundo.
Esse desafio se assemelha com o que acontece no show de um artista. Por um lado, o momento de estar em cima do palco é ápice do processo. Mas, por outro lado, há semanas, meses e até anos de preparação para montar um show que satisfaça os fãs.
A apresentação do trabalho acadêmico parece com um show na medida em que o aluno precisa se preparar muito bem para criar algo relevante. Nesse texto, apresento uma série de dicas para tornar você bem sucedido nessa missão.
Verifique as regras jogo
Uma das primeiras tarefas do aluno para a banca é verificar as regras. As regras de apresentação podem mudar de acordo com a instituição, curso e afins. Isso quer dizer talvez variem: o tempo para o aluno falar, o tempo da banca avaliar, os critérios de aprovação entre outros.
Por isso, o aluno deve recorrer ao seu orientador, à coordenação, à secretaria, fazer busca em documentos oficiais ou outras fontes para se certificar disso. O importante é ter uma informação válida e que vá ajudar a se preparar adequadamente para o momento final dessa jornada acadêmica.
Faça um registro de todas as regras e preste atenção a todas. Um erro muito comum dos alunos é ignorar demandas. Como orientador, já enfrentei situações em que eu pedia para o aluno me entregar demandas A, B e C. O aluno acabava me entregando A, fazia B mal feito e ignorava C. Resultado: tinha que refazer quase tudo. Então, o procedimento aqui é simples: não esqueça das demandas para sua apresentação. Negligenciar uma pode gerar um estresse que poderia ser evitado.
Seu orientador é o avaliador mais importante
Já presenciei muitos alunos extremamente ansiosos e com medo da apresentação do seu trabalho acadêmico. Uma das maiores preocupações é se serão aprovados ou não. Faz sentido porque é realmente um momento decisivo.
No entanto, sempre explico aos alunos que não deveria ser a banca o foco de todo esse medo. O maior avaliador de todos é seu orientador. A maior parte da sua aprovação vem da influência dele. Se ele acha que seu trabalho está pronto para ser avaliado, isso significa que ele confia no conteúdo que está ali.
Por isso, o aluno deve atender sempre ao que o orientador pede e ter uma boa relação com ele. Esse medo da banca pode ser substituído por muita atenção e dedicação ao que é pedido nas orientações. É preciso ter atenção desde o início da construção do trabalho. Se for assim, as chances de aprovação sobem quase que ao ponto de ser dada como certa. Saber que fez um bom trabalho e que atendeu ao orientador é o maior remédio para o medo de reprovar.
Mostre que domina o assunto
Os alunos também temem muito a apresentação e dão muito mais importância a ela do que ao próprio trabalho que construíram por meses. E deve ser o inverso. Vou explicar o porquê.
A apresentação não é o momento mais decisivo da avaliação. O momento mais importante é, primeiro, a construção do trabalho junto ao orientador. E o segundo mais importante é a leitura que a banca faz do trabalho. É nesse momento que os avaliadores vão, de fato, pensar na aprovação ou não, ou nos ajustes necessários.
Então, no momento da apresentação, a banca já leu o trabalho. A maior parte do jogo já aconteceu. A apresentação serve como um reforço ao que foi escrito. Quando o aluno está falando na frente dos avaliadores, o importante é mostrar que domina a pesquisa que realizaram e que foi você mesmo que a realizou.
Complemento de informação
Uma outra função da apresentação é a de complementar o que foi escrito. É possível que não dê tempo de escrever algo no trabalho devido a prazos, ou o aluno pode ter esquecido de algum detalhe ou até mesmo só ter pensando em algo depois de entregar o texto. Também pode ser que algum esclarecimento precise ser feito.
Todas essas informações podem ser inseridas na apresentação a fim de ajudar a banca a entender melhor o trabalho. Claro que me refiro aqui a complementos. Isso quer dizer que não é o caso de inserir muita informação. A informação deve ser mínima. Se for feito de outro modo, pode dar a impressão que o aluno foi descuidado e deixou informações importantes fora do texto.
Emocione o público
Não só os professores da banca assistem à apresentação. Outros alunos, conhecidos ou curiosos podem estar presentes também. A exposição tem a possibilidade de ter essas pessoas como alvo.
O público em geral gosta de assistir à exposição do aluno quase como um espetáculo. Alguns torcem, outros aprendem, mas estão ali naquela função de público. É válido criar momentos na apresentação para tocar essas pessoas. As expressões e manifestações delas podem impactar positivamente na avaliação da banca.
Digo isso porque muitas vezes negligenciamos que todos os que estão presentes na defesa são seres humanos e têm sentimentos. As apresentações podem explorar isso e transformá-las não apenas em uma fria exposição de pensamentos, mas tentar conquistar o coração de quem assiste. Nesse sentido, o público é sensível a esse tipo de estratégia.

Isso pode ser alcançado por frases de efeito, imagens inspiradoras, ideias profundas ou muito inteligentes, esquemas visuais bonitos ou recursos criativos diversos. No entanto, vale o alerta de não exagerar na dose. A grande entrega do trabalho acadêmico é racional e isso deve compor a maior parte do trabalho. O apelo à emoção deve vir como um complemento, em pequenas doses, dando um pouco de brilho às ideias.
Resuma o importante e destaque os pontos fortes
A apresentação deve ser composta do quê? Como já mencionei, a banca já leu o trabalho. Os professores já têm conhecimento do conteúdo da pesquisa. Também já falei das diversas funções da apresentação, como a de o aluno mostrar que tem domínio do que realizou.
Sendo assim, pelo tempo limitado e essas características citadas, a apresentação é apenas uma síntese do trabalho.
Nessa síntese, deve ser incluído o que há de mais importante no texto. Em primeiro lugar, deve conter o essencial que uma pesquisa deve comunicar. É o caso de elementos que toda pesquisa deve ter, como pergunta e/ou objetivos de pesquisa. A ideia do essencial é mostrar à banca que você domina os elementos básicos do seu trabalho.
Uma estratégia que pode ajudar também é focar nos pontos fortes do trabalho. Eu, por exemplo, costumo criar seções de resultados extremamente ricas e bem estruturadas. Faço isso porque considero a descoberta da pesquisa sua parte mais importante de todas. Desse modo, na apresentação dos meus orientandos, digo a eles que dediquem mais tempo a essa seção.
Já os pontos fracos devem ser minimizados e terem pouco tempo dedicados a eles na apresentação. Se não forem essenciais, nem devem aparecer. Ainda há a possibilidade de falar deles com justificativas, explicações que levem à banca a compreenderem e aceitarem melhor os deslizes cometidos.
Comece pelo mais simples
Muitos alunos ficam nervosos no momento da apresentação. Um dos momentos mais decisivos nessa situação é o começo da defesa. Tenho uma sugestão para ajudar nisso.
Logo no início do trabalho, falo do assunto mais simples possível. Uma estratégia que pode funcionar é o aluno começar a apresentação falando brevemente sobre a história da pesquisa. Conteúdos que podem ser sobre como chegou na ideia daquela investigação, qual sua relação com ela, contar das dificuldades que enfrentou no processo ou outros assuntos semelhantes.
Como não são informações técnicas, o aluno terá mais facilidade de falar. Nesse momento, conseguindo fazer o simples, ele ganhará confiança e irá se acostumar mais facilmente com a adrenalina do momento.
Mas aqui vale a mesma ressalva: não exagere na dose. Essa estratégia não deve levar muito tempo para não acabar passando uma impressão de que está “enrolando”. Além disso, como o tempo é limitado, é preciso focar nas partes importantes do trabalho e não correr o risco de estourar o tempo sem apresentá-las.
Esquemas visuais
É preciso saber utilizar os recursos disponíveis. Hoje, quase todas as apresentações acadêmicas são feitas com auxílio de slides. Os slides são um recurso visual e quanto mais visual for a apresentação, melhor.
Nesse contexto, os esquemas visuais são extremamente relevantes. Mesmo o texto apresentado com ícones, formas, esquemas, mapas mentais, pode dar a apresentação maior elegância e valor.
Use fotos, desenhos, dentre outros recursos à vontade. Mas fica a observação: tudo deve ter relação com o conteúdo. Não vá inserir imagens aleatórias que isso pode ter o efeito inverso.

Até mesmo o texto deve ser utilizado estrategicamente. Se for utilizá-los, use palavras ou frases e não parágrafos. Ninguém consegue ler muito texto e esse excesso pode tirar toda a vocação dos slides de guiar a apresentação, já que ninguém conseguirá ler o parágrafo inteiro.
Não leia os slides!
Uma das situações mais constrangedoras que pode acontecer para a banca é presenciar a leitura de slides. É péssimo. Dá a entender que o aluno não tem domínio do conteúdo, não se dedicou à apresentação e o falta o mínimo de bom senso.
Como já disse, os slides são um recurso visual e não textual. Os blocos de texto densos tiram toda a função e beleza visual da apresentação. Se for usar texto, use tópicos, no máximo.
Uma observação: a leitura de slides pode até acontecer em situações específicas. É o caso de nomes de autores, títulos de categorias da pesquisa, ou nomes de variáveis, entre outros, que o aluno não precisa decorar. No entanto, isso é uma exceção à regra e deve ser utilizado minimamente, do mesmo modo que textos longos.
Use slides com visual sóbrio
Uma outra dica é utilizar uma estética sóbria na apresentação dos slides. é preciso ter em mente o contexto do uso deles. Não se trata de um concurso de design ou moda, nem é uma exposição para amigos. É um evento acadêmico, sério, e que o aluno precisa demonstrar sua capacidade e seriedade na pesquisa em que desenvolveu.
Por isso, os slides devem evitar muitas cores, imagens espalhafatosas, infantis dentre outros semelhantes. Eles podem ter cores e chamar a atenção? Podem sim, mas com equilíbrio e sem exagero.
Se não quiser arriscar, aposte no básico, com conteúdo organizado, informações claras. Só de fazer o essencial bem feito, isso já conta a seu favor.
O mais importante na apresentação é o conteúdo e os recursos estéticos devem atuar para ajudar na comunicação desse conteúdo.
Treine a apresentação várias vezes
Uma das melhores soluções para evitar a leitura de slides é treinar a apresentação. Também é útil para diversos outros problemas. Essa ação ajuda não só a memorizar a exposição, mas também a aprimorar a estrutura dos slides.
Sendo assim, sugiro que o aluno monte a apresentação e a repita várias vezes. A cada repetição, o modo de expor a informação se tornará melhor. Os slides também poderão ser alterados para servir de apoio de maneira mais efetiva.
Veja outras apresentações
Aprenda com a experiência dos outros alunos. Geralmente, as defesas de trabalho acadêmico são abertas ao público. O aluno pode assisti-las para aprender com os outros como se saíram. Aqui vale notar os pontos positivos para replicar e os pontos negativos para evitar. Além de ter informações que servirão como exemplos.
Registre o que a banca dirá
Um outro cuidado é o de preparar um registro do que a banca dirá sobre seu trabalho. Isso é importante porque os avaliadores costumam pedir alterações no documento de pesquisa que construiu. Para não perder essa informação, é interessante gravar suas falas ou anotar, caso não permitam gravar. E, claro, se for gravar, primeiro peça autorização a eles.
Respeite os questionamentos e faça o seu melhor
É comum a banca fazer questionamentos e críticas a que você entregou. O aluno precisa entender que não é nada pessoal, que os professores estão tentando fazer o seu trabalho melhorar e entender se você tem domínio do que fez.
Nas entrelinhas, o aluno pode demonstrar que fez e está fazendo o seu melhor. O inverso pode atrapalhar, isto é, o aluno aparentar desleixo, falta de seriedade, falta de empenho, dentre outros. Dê o seu melhor e a banca sentirá isso de alguma forma e isso contará ao seu favor.
Antes que você ache que estou sendo otimista demais, sim, já ouvi falar de bancas que foram rígidas em excesso e até puseram o aluno em situações difíceis. No entanto, mesmo nesses casos, as minhas sugestões ainda valem. Se sua preparação foi boa, vai conseguir lidar melhor com esse tipo de situação. Sem falar que se enraivecer não ajuda.
Sorria para a foto!
Mesmo que seja difícil, a apresentação do trabalho acadêmico é um marco na jornada do aluno. Quando você receber a resposta da aprovação, vai sentir uma profunda realização e sensação de dever cumprido. Por isso, se prepare para tirar fotos ou prints da tela para compartilhar sua felicidade com os outros.
Essas são algumas dicas que aprendo nos meus vários anos de vida acadêmica, seja pela minha própria experiência, seja avaliando alunos. A maior dica é sempre se dedicar ao máximo, fazer o seu melhor. Sem isso, nem essas minhas dicas podem ajudá-lo. Então, se esforce e aproveite esse momento como uma forma de aventura, como um herói que deve superar desafios para crescer como pessoa. Apesar dos pesares, nessa jornada você aprenderá muito não só sobre a academia, mas sobre você mesmo e o mundo ao seu redor.
Muito bom!