O momento de produzir os resultados de uma pesquisa é um dos ápice dos processo. É nele que a pergunta de pesquisa ganha uma resposta; além disso, tem-se a compreensão final da investigação e as descobertas aparecem com mais clareza.
Imagine que o pesquisador é um aventureiro buscando um tesouro, como Indiana Jones. Ele passa por florestas de dados e vários perigos de ser perder nisso tudo. Ele tem um mapa do percurso que é a teoria; ele tem uma estratégia de como fazer o trajeto, que é o método; a aventura só acaba quando ele encontra o tesouro, que são os resultados. A redação dos resultados é o momento em que ele escreve o que viveu e o que encontrou para todo o mundo saber.
Vou dar mais atenção aqui à redação e não na produção desses resultados em si. Isso porque essa produção varia muito e de acordo com o tipo de investigação, com modo com que o pesquisador trabalha entre outros. A ideia é apresentar informações gerais úteis para a construção desse texto. Isso inclui os preparativos, a atenção à pergunta de pesquisa, a organização dos achados, maneiras úteis para exposição da informação e a fundamentação das descobertas.
Preparativos
Em todo caso, sugiro que antes de produzir os resultados haja uma boa preparação. É necessário retomar a pergunta a pergunta de pesquisa para saber o que se quer encontrar na investigação da realidade.
É importante ter alguma leitura sobre o assunto de modo que se saiba mais do que o senso comum diz sobre o que se vai pesquisar. Por exemplo, No caso de minhas pesquisas sobre experiência do consumidor no São João, antes eu procurei saber muito bem o que eram experiências e o que era o São João e como a consomem. Isso me deixou preparado para entender o que encontrei nos dados.
Uma outro cuidado diz respeito ao método. A construção dos resultados nada mais é do que executar o método, principalmente a coleta e análise dos dados. São esses procedimentos que vão permitir chegar numa conclusão, na resposta da pergunta de pesquisa e nas descobertas. Então, o pesquisador precisa entender bem do método para utilizá-lo adequadamente. Já falei sobre método em outro texto.
Após a execução, é interessante que os resultados obtidos estejam organizados para que, na hora de escrever, o pesquisador não se confunda com nada. Isso é importante dizer porque, na pesquisa qualitativa, os dados podem ser numerosos. Por isso é importante manter a organização do início até o fim. Daí a importância do registro de dados que já falei no texto sobre o método.
Respondendo à pergunta de pesquisa
Os resultados devem ter como norte a pergunta de pesquisa antes, durante e depois de sua produção. Mas, a partir de agora, gostaria de falar dos momentos que orbitam mais intensamente a redação.
O que quer que você escreva nas resultados deve dar uma sensação ao leitor de que todo o trabalho dele em ler seu texto não foi em vão. Você fez uma promessa na introdução de trazer uma resposta à pergunta e a realizar objetivos. No referencial teórico você preparou o leitor com noções úteis para entender essa resposta. Nos procedimentos metodológicos você disse a ele como produziu a resposta. Portanto, esse leitor agora espera essa resposta.
Por isso, sugiro que toda a seção de resultados seja escrita pensando em responder a esse leitor ansioso. A estruturação do texto deve girar em torno de oferecer essa resposta.
Dividir para conquistar (o leitor)
Os resultados de uma pesquisa podem ser ricos e complexos, o que pode tornar sua compreensão difícil. E, se o leitor não entender o que leu, todo o trabalho de pesquisa e redação foi jogado ao vento.
Nessa fase recomendo que o pesquisador garanta uma seção de resultados sintética, dividida, organizada e clara.
Síntese
O primeiro trabalho é o de sintetizar a grande quantidade de dados utilizada. O que pode ajudar nessa fase é, mais uma vez, a pergunta de pesquisa. Não precisa mostrar tudo, apenas o suficiente para convencer o leitor de que você respondeu a sua pergunta de pesquisa de maneira comprovada, aceita em termos científicos. Já falei sobre isso em outro texto.
Divisão e organização
Uma das estratégias para garantir tanto a síntese quanto a clareza é a divisão. O ser humano tem uma capacidade limitada de compreensão e memória, o que não permite que ele absorva uma grande quantidade de informação de uma vez só. Por isso, sugiro que os resultados estejam divididos em partes organizadas.
Cada parte dessa divisão vai procurar sintetizar um aspecto do que foi descoberto. Desse modo, fica até mais fácil a síntese. Isso porque, uma coisa é sintetizar 10 páginas de dados e outra é sintetizar 1 página de cada vez gerando 10 sínteses no total. Essas partes devem ter uma organização simples, indicando agrupamentos, relações ou hierarquias entre elas, para tornar a compreensão mais fácil de se entender.
Clareza
A clareza no texto depende da habilidade do pesquisador de escrever. Vale aqui a máxima de escrever sempre na ordem direta da linguagem: sujeito-predicado-complemento. O bom domínio da língua em que se vai escrever conta nessa missão.
Todos aqueles anos estudando português, literatura e redação no colégio são muito úteis nesse momento. Existem guias de estilo disponíveis na internet que oferecem algumas diretrizes. Ler textos bem escritos ajudam ao pesquisador a se habituar.
Eu, particularmente, admiro o modo com que texto científicos escritos em língua inglesa. Eles são muito objetivos, minimalistas, com palavras simples que nem parecem aqueles textos cheios de “firula” que muitos acadêmicos utilizam. O texto acadêmico não precisa ser complexo, ele precisa apenas comunicar muito bem a descoberta e tudo que a apoia.
Eu ainda vou escrever um texto sobre isso mas, o que posso dizer no momento é: escrever é pensar; o modo com que escrevemos é o modo como pensamos. Então, se o que você vai escrever está muito claro em sua cabeça, isso facilita a redação, como é o caso de fazer um planejamento, um roteiro de ideias. No entanto, para pensar bem é preciso fazer bastante “musculação da mente”. Nesse sentido, quem lê textos inteligentes está na frente do consumidor assíduo de redes sociais que só “lê as figurinhas”.
Do geral para o específico
Depois de dividir os resultados em partes, é possível que se tente imaginar qual organização utilizar na redação. O texto acadêmico, de modo geral, funciona melhor seguindo a ordem de tratar primeiro do mais geral e depois falar do mais específico.
No caso, pode-se começar a seção de resultados com um panorama dos achados, uma espécie de mapa do que o leitor vai encontrar. Depois, em um ordem clara, falar um a um das partes desse panorama. Tudo isso respondendo diretamente a pergunta de pesquisa, se possível até mesmo o título das partes deve vir de acordo com essa diretriz.
Utilize o visual
O texto acadêmico pode ser muito denso ou a pesquisa mesmo ter uma alta complexidade. Nem sempre as palavras resolvem bem esse tipo de coisa. Então, uma sugestão para melhorar a clareza do seu texto é usar quadros, imagens e esquemas que representem a conclusões e depois informações importantes. Esses recursos tornam a compreensão mais intuitiva.
Explique as noções importantes
Os resultados podem ser entendidos como uma explicação da realidade por meio da linguagem, isto é, estamos explicando a realidade com palavras. Claro que em termos mais sofisticados que nos permitem melhorar a compreensão daquela realidade.
Nessa explicação sofisticada, utilizamos palavras com significados muito específicos, já que não estamos lidando com o senso comum. Isso quer dizer que algumas palavras terão significados diferentes do dicionário ou do que seu grupo social utiliza. No caso das minhas pesquisas, eu sempre defino o que quero dizer pelo termo “experiência” para não haver nenhum tipo de ruído com o senso comum.
Sendo assim, fique atento para explicar ou na seção de referencial teórico, ou de procedimentos metodológicos ou nos próprios resultados as definições conceitos, códigos, categorias e o que mais for importante para o leitor entender bem o que está sendo falado.
Mostre os dados
Lembre-se que todo tipo de afirmação sobre a realidade que se faz deve estar baseada nos dados. O texto acadêmico não é literário, ele não fala puramente a partir imaginação. O texto acadêmico se constitui de um pesquisador narrando para o mundo que descobriu sobre o mundo. Esse mundo está representado nos dados, isto é, tudo que foi coletado por meio das entrevistas, observações, fotos e assim por diante.
Então é importante que nos resultados apareçam pelo menos uma amostra dos dados que levaram o pesquisador àquela conclusão. Aqui vale a sugestão de síntese, já que nem sempre é possível mostrar todos os dados, mas exibir amostras do mais importante que encontrou para cada parte dos resultados.
Essa amostragem também pode ser feita por meio de uma pequena demonstração reduzida de como ocorreu a análise dos dados. Assim, é possível mostrar como ocorreu um processo de análise e isso servir para o leitor entender como funcionou o método na prática.
Com a experiência que tenho de observar inúmeros trabalhos de alunos na graduação e na pós, se você seguir todas essas diretrizes já estará bem acima da média de qualidade dos trabalhos. Com o tempo, cada pesquisador desenvolve uma técnica própria de pesquisa, que inclui estruturar uma seção de resultados. Mas caso você não tenha, minhas dicas já colocam você mais perto de um bom trabalho.
