Para que serve a pesquisa?

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A pesquisa é um grande problema para muitos alunos. Isso se dá em grande parte por conta de uma má compreensão de utilidade dela. É como se as pessoas estudassem e aplicassem uma ferramenta sem saber exatamente para o que ela serve.

Isso produz uma relação fria com a pesquisa. Geralmente a função dela aparece associada com a necessidade do aluno de se formar com um TCC ou de produzir artigos para gerar pontuações para pós-graduações ou concursos. Pesquisar é apenas um meio para obter outra coisa e não se mostra com uma finalidade clara. No entanto, o processo acadêmico exige muita energia e habilidades que se tornam difíceis de vivenciar pela falta de sentido percebido. E esse sentido só existe quando o indivíduo entende e se relaciona bem com a verdadeira razão de existir da pesquisa.

A pesquisa serve para descobrir, esse é o propósito dela. Mas não adianta apenas memorizar isso, é preciso entender o que é descobrir. Descobrir é saber de alguma coisa que antes não se sabia, similar a seguinte situação. Imagine que você nunca tenha visto seus primos, até que um dia você os encontra e pronto, você descobriu quem são os seus primos.

Esse conceito simples se torna complexo na pesquisa porque ela se dedica a conhecer coisas mais difíceis de entender. Uma coisa é descobrir quem são seus primos, outra coisa é descobrir a cura do câncer, descobrir por que as empresas vão à falência ou descobrir porque os consumidores deixaram de comprar um produto. E por serem processos mais complexos que vão exigir procedimentos mais bem desenvolvidos, que é o que chamamos de método.

A própria história da ciência e filosofia nos mostra o real propósito da pesquisa. Einstein descobriu a a dinâmica da relatividade, Freud descobriu o inconsciente, Jung descobriu os arquétipos, Darwin descobriu a dinâmica da evolução, Marie Curie descobriu dinâmicas da radioatividade, Newton descobriu os mecanismos de funcionamento do movimento, Galileu descobriu que a terra girava em torno do sol… Infelizmente, esses casos parecem ser folclore no imaginário de alunos de pesquisa, como se fossem histórias de livros de fantasia. Quando, na verdade, são exemplos claros e importantes de para que serve a pesquisa e que deveriam inspirar todos que trabalham com ela. Talvez seja meio óbvio mas precisamos dizer também o óbvio: a pesquisa serve para fazer grandes descobertas!

A descoberta de Galileu de que a Terra gira em torno do sol contribuiu com a ideia de sistema solar

A essa altura já podemos entender por que as pesquisas começam com uma pergunta. Se queremos descobrir algo é não conhecemos sobre esse algo e vamos nos esforçar para saber. E qual é a forma que temos na nossa língua de demonstrar que queremos saber algo? Já respondi: é a pergunta.

Imagine que você está desconfiado de um amigo seu não ser realmente seu amigo. Ou seja, você não sabe se ele é realmente seu amigo. Naturalmente você vai se perguntar: será que fulano é realmente meu amigo? E você pode até perguntar para outras pessoas: você acha que fulano é meu amigo? E essa pergunta, esse algo que você não sabe, vai fazer você buscar uma resposta observando, falando com outras pessoas e assim por diante. É esse também o mecanismo da pesquisa: quando queremos descobrir algo, fazemos uma pergunta! A pergunta vai fazer o pesquisador se mover para achar uma resposta, para descobrir.

Um outro ponto que poucos falam sobre pesquisa é que ela é um processo inovador. Descobrir é criar uma resposta nova para uma pergunta. Por que uma resposta nova? Porque se damos uma resposta que já era conhecida, isso significa que alguém já descobriu aquela resposta antes de nós. Então descobrir é sempre descobrir algo novo. Ninguém quer descobrir com andar de duas pernas, mas andar com as pernas no ar, talvez seja mais intrigante.

Do mesmo modo que criar um novo produto é inovação, criar uma nova resposta também é um processo inovador, criativo. A inovação também se dá pela própria maneira de fazer a pesquisa, que exige procedimentos novos ou no mínimo totalmente adaptados àquela pergunta, como estratégias, análises, coletas. Uma exceção para isso é quando uma pesquisa repete outra para ver se rende os mesmos resultados. São os experimentos que testam se um determinado procedimento científico realmente foi feito corretamente ou se os resultados podem ser verificados. Essa é uma de poucas exceções.

Há ainda a inovação no modo de dar a resposta à pergunta pela simples razão de que há várias maneiras de dizer uma mesma coisa. Aqui o pesquisador é como um escritor, ela cria uma maneira de dar sentido aos resultados de acordo com sua história, seu conhecimento, seu estilo, sua capacidade de se comunicar. Aqui podem surgir definições, palavras, imagens, metáforas, narrativas… Não é raro encontrarmos frases poéticas de pensadores e cientistas como maneiras de expressarem seus pensamentos.

Matemática pura é, à sua maneira, a poesia de ideias lógicas

Einstein

O sonho é a estrada real do inconsciente

Freud

Disso entendemos uma outra grande dificuldade do processo burocrático que se tornou a pesquisa. Não é possível inovar sem estar envolvido e realmente consciente do processo. Quando o aluno não entende para que serve a pesquisa, ele não se torna parte viva do procedimento, executando de maneira mecânica e pouco eficaz o que precisa ser feito.

Além disso, a cultura que nos rodeia dificulta ainda mais essa tarefa. Inovar é um processo de fazer algo diferente e as pessoas estão acostumadas a soluções prontas e fáceis que possam apenas copiar. O processo de copiar é intenso, com pessoas copiando até mesmo estilos de vida. Inovar exige não seguir a multidão, pensar diferente ou, na verdade, pensar com a “própria cabeça” e não “com a dos outros”. Assim, o pesquisador se destaca pela sua capacidade de pensar de maneira independente e não apenas seguir a manada. O processo exige uma postura consciente difícil de desenvolver na cultura de massa em que vivemos em que se vive levado por modismos ou ideias populares.

Agora você já sabe que a pesquisa serve para descobrir e até mais. Sabe que descobrir tem a ver com fazer perguntas, pois só nos esforçamos para descobrir algo que não sabemos ainda. Por isso também pesquisar é inovador, pois se está criando algo novo. Pesquisar também diz respeito a um modo de ver a vida, consciente, criativo, mais do que apenas copiar. Uma boa hora para começar a sua pesquisa e descobrir algo que vai mudar o mundo.

Professor Rodrigo

Doutor em Administração, professor e pesquisador há mais de 10 anos.

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